De acordo com a Associação Americana de Ortodontia, 66% da população apresenta problemas de mau posicionamento dentário. É interessante notar que estudos arqueológicos indicaram que a incidência atual é muitas vezes maior do que há poucos séculos. Apinhamento e dentes mal alinhados eram raros até recentemente. Os problemas predominantes eram de desarmonia no tamanho dos ossos maxilares, como, por exemplo, o queixo muito para frente.

A partir destes dados, algumas teorias surgiram tentando explicar este aumento no índice de mau posicionamento dentário. A primeira delas é que os maxilares no homem moderno são subdesenvolvidos, ou seja, menores em relação aos povos primitivos. É fácil concluir que esta redução progressiva dos ossos, não associada à diminuição do tamanho dos dentes, poderia levar ao mau alinhamento destes, devido à falta de espaço para os mesmos.

A segunda teoria baseia-se na hipótese de que a mastigação só de alimentos macios levaria ao não-desenvolvimento do aparelho mastigatório. Esta conclusão foi tirada a partir de estudos que notaram uma prevalência de má oclusão entre as populações urbanas, comparadas com as populações rurais com hábitos alimentares mais naturais.

Uma terceira teoria afirma que o aumento de cáries e de doenças nas gengivas, devido a uma dieta rica em açúcar, leva, em conseqüência, à perda de alguns dentes, que pode estar diretamente relacionada ao não-estabelecimento de uma oclusão (posicionamento entre os dentes) correta, devido ao desequilíbrio causado pela perda precoce dos dentes.

Mas, hoje, o que se sabe realmente sobre o problema de mau posicionamento dentário? O primeiro fato é que a má oclusão é causada primariamente por fatores genéticos. A grande mistura entre as raças, com tamanhos variados de dentes e maxilares, levaria a um desequilíbrio nas proporções entre dentes e ossos. Também se notou que os problemas dos pais algumas vezes se repetem nos filhos. O segundo fato é que características ambientais como respiração pela boca, projeção da língua ao engolir, dieta macia, hábitos como chupar o dedo e/ou a língua, roer unhas e o uso de mamadeira contribuem em parte para o estabelecimento da má oclusão.

Com base nestas teorias, podemos dividir as causas das más oclusões em dois grandes grupos: as anomalias hereditárias e as anomalias adquiridas.

Anomalias Hereditárias

De acordo com os conhecimentos atuais, os seguintes tecidos podem ser afetados primariamente por deformidades faciais transmitidas geneticamente:

Sistema Neuromuscular

As anomalias no sistema neuromuscular são primariamente anomalias de tamanho, posição, tonicidade, contratilidade e coordenação neuromuscular dos tecidos faciais, orais, da língua e da musculatura.

Graves deformidades podem ocorrer devido a uma macroglossia (língua grande) ou uma microglossia (língua pequena). O formato dos lábios, bem como a sua capacidade de fechamento anterior, tem grande importância no desenvolvimento facial. Algumas condições musculares atípicas como atrofia e hipertrofia da musculatura podem causar má oclusão.

Dentição

Alguns aspectos da dentição são geneticamente determinados, por exemplo:

Tamanho e forma dos dentes

Desvios no tamanho e na forma dos dentes são causas comuns das más oclusões. O tamanho dos dentes, em comparação com os ossos que os suportam, pode determinar apinhamentos severos ou espaços generalizados entre eles.

Número de dentes

A ausência de certos dentes ou a presença de dentes supranumerários podem causar desequilíbrios na harmonia entre os arcos dentários.

Defeitos genéticos na mineralização dos dentes, como a dentinogênese imperfeita e a amelogênese imperfeita, podem causar distúrbios sérios na forma e na estrutura dos mesmos. Caminho de erupção, localização dos germes dentários e seqüência de erupção dos dentes apresentam grande influência genética.

Ossos

Alguns fatores genéticos afetam os ossos da mandíbula e da maxila e outros ossos faciais, causando as displasias ósseas hereditárias. As principais influências genéticas são no tamanho, na forma, na localização e no número dos ossos da face. Macrognatia (mandíbula grande) e micrognatia (mandíbula pequena) são causas comuns do retrognatismo e do prognatismo. O formato dos ossos pode causar assimetrias faciais. Algumas síndromes que afetam as estruturas ósseas, como a disostose mandibulofacial, a disostose maxilofacial, a disostose cleidocraniana e a síndrome de Crouzon, podem causar sérias deformidades faciais.

Má oclusão esqueletal

O prognatismo mandibular e os problemas de classe II segunda divisão são atribuídos a uma herança dominante, quase sempre transmitidos através de fatores poligênicos. A variedade de expressão de uma má oclusão em uma família é devida ao envolvimento de diferentes grupos de genes e fatores do meio ambiente. De acordo com o conhecimento atual, os seguintes problemas de má oclusão são hereditários: classe II divisão II, prognatismo mandibular, biprotrusão, mordidas abertas esqueléticas e retrognatismo mandibular.

Tecidos moles

O prognatismo mandibular e os problemas de classe II segunda divisão são atribuídos a uma herança dominante, quase sempre transmitidos através de fatores poligênicos. A variedade de expressão de uma má oclusão em uma família é devida ao envolvimento de diferentes grupos de genes e fatores do meio ambiente. De acordo com o conhecimento atual, os seguintes problemas de má oclusão são hereditários: classe II divisão II, prognatismo mandibular, biprotrusão, mordidas abertas esqueléticas e retrognatismo mandibular.

Anomalias Adquiridas

Problemas durante a gestação

Existem alguns problemas de má oclusão, adquiridos durante a gestação, que são denominados anomalias congênitas. Em muitos casos, a causa do problema não pode ser determinada. Outros problemas, no entanto, foram incluídos como causa de algumas displasias. São eles: patologias embrionárias causadas por viroses, radiação ionizante (ex.: raios X) e certas substâncias e medicamentos.

Traumatismos

Os traumatismos podem ser divididos em traumatismos pré-natais, traumatismos durante o nascimento e traumatismos após o nascimento.

O trauma intra-uterino na fase pré-natal pode causar um subdesenvolvimento mandibular. O posicionamento inadequado do feto no útero materno pode causar assimetrias faciais que normalmente desaparecem um tempo depois do nascimento. O parto usando fórceps pode causar danos às ATMs e, conseqüentemente, anquilose mandibular. Os traumas após o nascimento também podem ter conseqüências, a depender da localização, extensão e fase de desenvolvimento do indivíduo. Traumas em crianças ainda sem dentes podem vir a ocasionar retenção dos dentes de leite, dentes mal posicionados e má-formação das raízes dos dentes de leite. Estes traumas normalmente não afetam os dentes permanentes. Após 4 anos de idade é que traumatismos nos dentes de leite podem afetar os dentes permanentes.

Fatores físicos

O método de amamentação é um fator etiológico importante no desenvolvimento da retrusão mandibular durante a dentição decídua. A principal vantagem de uma amamentação no peito materno, no que concerne à ortodontia, é a ativação da musculatura facial, bem como a protrusão mandibular. Este processo fisiológico, durante os primeiros meses, auxilia no desenvolvimento da mandíbula para frente, compensando a retrusão mandibular presente no nascimento. Mesmo os bicos anatômicos não compensam as vantagens da amamentação natural.

As crianças já podem mastigar, uma vez os molares decíduos erupcionados. É importante para o desenvolvimento normal da dentição que as crianças se alimentem com alimentos sólidos a partir deste momento. A insuficiente mastigação de alimentos sólidos pode afetar adversamente a formação das estruturas ósseas e o desenvolvimento normal dos maxilares.

A perda prematura dos dentes de leite também é um fator etiológico no desenvolvimento de anomalias da dentição. Primeiramente, a capacidade mastigatória é prejudicada, o que leva à falta de desenvolvimento ósseo. Secundariamente, o espaço para os dentes permanentes e o equilíbrio da dentição ficam comprometidos.

A respiração pela boca pode afetar o desenvolvimento correto dos maxilares.

Hábitos deletérios

Os hábitos que normalmente causam problemas no desenvolvimento facial e na dentição são os hábitos de chupar o dedo, a língua, os lábios e as bochechas, roer as unhas e mastigar lápis ou canetas.

Doenças

As doenças sistêmicas mais comuns que afetam o desenvolvimento orofacial são: síndrome de Franceschetti, disostose cleidocraniana, trissomia do 21, displasia ectodérmica, amelogênese e dentinogênese imperfeita e fissuras de lábio e palato.

As doenças locais que normalmente causam problemas no desenvolvimento orofacial são: doenças respiratórias, infecções no ouvido médio em bebês, causando danos na articulação temporomandibular (ATM), doenças gengivais durante a dentição mista, cistos e tumores, cáries e perda prematura dos dentes.